Lado A – Lado B

COLUNISTA: Claudio Furtado
Engraçado como até mesmo após a sua partida, o Ozzy continua me influenciando. Tive a ideia de pôr em prática algo que há muito tempo estava em minha mente.
Já faz um bom tempo que eu comecei a ter vontade de comprar uma vitrola para voltar a comprar alguns vinis especiais que marcaram a minha vida. Aqui em Berlim tem vários “Flohmärkte” (Mercados de Pulgas), onde se pode garimpar várias preciosidades do mundo do Rock, sem falar das lojas onde encontramos vinis raros. Esse momento de comprar uma vitrola ainda não chegou, mas com a ida do Príncipe das Trevas para outras viagens, eu retomei um hábito que a muitas décadas eu tinha abandonado.
Com o aparecimento do CD, nós perdemos, e muito, da magia que eram as capas dos discos, alguns inclusive eram grandes obras de arte. Lembro como eu passava horas olhando para as capas dos discos do Iron Maiden, analisando cada detalhe dos desenhos.
Um outro hábito que perdi há muito tempo, foi o de acompanhar as músicas com os encartes que vinham nos álbuns. Isso me fez decorar várias canções e me interessar por diversos assuntos que eram abordados nas letras dos meus artistas preferidos. Na época, sem internet, recorríamos ao dicionário de papel para entender aquelas letras, ou líamos as letras traduzidas em revistas, como por exemplo na Metal e na Bizz.
Um outro aspecto que perdemos com o advento do CD foi o conceito de Lado A e Lado B dos discos e das fitas cassetes, onde tínhamos que mudar de lado para escutar as canções que estavam no Lado B. Na MTV Brasil – onde os videoclipes se popularizaram – havia até um excelente programa que abordava esse conceito de lados dos discos, o famoso Lado B, o qual foi apresentado por diversos VJs deste canal: Luiz Thunderbird, Soninha, Fabio Massari e Kid Vinil. Nesse programa ouvíamos aquelas músicas de qualidade que eram desprezadas geralmente pelas rádios, as quais estavam no lado B dos LPs.
Voltando ao assunto inicial, resolvi colocar em prática o meu “Back to the Beginning”, pois a partida do Ozzy me incentivou a voltar a ouvir os discos como um todo e na ordem das músicas dos álbuns. Isso é um hábito que eu tinha perdido desde a popularização do CD. Usando a tecnologia dos aplicativos de Smartphones decidi retornar a esse meu hábito antigo. Com a chegada dos aplicativos de música eu me acostumei a ouvir “playlists” no modo randômico. Algumas “playlists” feitas por mim, outras que me enviavam e outras que o próprio aplicativo me sugeria. Me focar somente nas “playlists” fez com que eu mudasse o meu hábito a ponto de passar a ignorar e a desconhecer a integra do trabalho dos artistas, motivo pelo qual eu decidi investir neste “revive” da era do vinil, quando ouvia o Lado A e o Lado B como um todo.
E esse revive não vai parar por aí. Quero voltar também a ler as letras das músicas enquanto ouço os meus clássicos preferidos. No aplicativo que eu uso tem essa opção de acompanhar a letra ao ouvirmos a música, os demais aplicativos também devem ter essa característica. Acho isso muito legal e muito útil para o aprofundamento na obra dos artistas. É claro que existem alguns erros nas descrições das letras, mas nada que passe desapercebido se ouvirmos com atenção.
No momento estou ouvindo a discografia do Black Sabbath. Com o Ozzy no vocal. É claro. E depois irei ouvir a discografia da carreira solo do Ozzy, mas minha lista é grande e variada, ela passa por vários estilos do mundo do Rock, Heavy, Trash, Punk e Hardcore. Muitos outros estilos estão também presentes nessa minha extensa lista de deleite e pura diversão.
Fica aqui a sugestão para vocês também experienciarem esse “revive”. O mundo dos aplicativos facilita muito os apaixonados pelo mundo do Rock e da música em geral, mas também pode nos privar da íntegra do trabalho dos artistas, motivo pelo qual estou optando por essa mudança de hábito.