Caos, morte, magia negra: 13 endereços do rock com passados sombrios

Traduzido do artigo original: https://www.classical-music.com/articles/rock-addresses-with-dark-pasts
Rock sempre prosperou na decadência e no perigo, mas algumas de suas maiores músicas nasceram em lugares já imersos na escuridão. Esses lugares nos lembram que a criatividade frequentemente germina em solo assombrado: vilas devastadas pela guerra, castelos amaldiçoados e estúdios em ruínas onde o passado se recusa a morrer. Acredite em fantasmas ou não, os ecos nunca realmente desaparecem, eles apenas zumbem pelos amplificadores.
De antigos quartéis da Gestapo e mansões assombradas a hotéis marcados pela tragédia, esses endereços mostram que criatividade e caos muitas vezes dividiram as mesmas paredes. Aqui estão 13 locais onde os fantasmas da história, literais e figurativos, deixaram sua marca na mitologia do rock.
1. Villa Nellcôte, Villefranche-sur-Mer, France

Empoleirada no alto de um penhasco acima da Riviera Francesa, a Villa Nellcôte é lendária por suas histórias duplas e contrastantes. No verão de 1971, a opulenta vila costeira foi alugada pelo guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards, e tornou-se um covil de hedonismo durante as sessões de Exile on Main Street, com gente como Gram Parsons e o notório traficante francês Jean de Breteuil aparecendo por lá. O calor sufocante do Mediterrâneo, equipamentos de gravação defeituosos e acústica terrível transformaram a vila num caldo caótico e suado de criatividade. Mick Jagger, Keith Richards e a banda navegaram por excessos alimentados por substâncias, jams noturnos e agendas em frangalhos, produzindo música crua, urgente e icônica. Somando-se ao passado turbulento de Nellcôte está o boato, alimentado por Richards, de que na década de 1940 a vila serviu como quartel-general da Gestapo ocupante, onde medo, vigilância e segredo definiram suas paredes. Villa Nellcôte encarna tanto a ameaça histórica quanto o mito do rock ’n’ roll, um lugar onde um passado opressor e o gênio artístico colidiram.
2. 10050 Cielo Drive, Los Angeles

10050 Cielo Drive, em Los Angeles, é infame por sua ligação com a Família Manson: em 1969, membros do culto de Charles Manson assassinaram brutalmente a atriz Sharon Tate e outras pessoas, consolidando o endereço como símbolo de horror e choque cultural. Antes disso, a casa foi brevemente alugada pelo baterista dos Beach Boys, Dennis Wilson, cujas conexões apresentaram Manson aos círculos de Hollywood. Wilson permitiu que Charles Manson e seus seguidores ficassem por um tempo em 10050 Cielo Drive, dando-lhes acesso à cena musical de Hollywood. Através das conexões de Wilson, Manson conheceu celebridades e produtores, incluindo Terry Melcher, na esperança de um contrato de gravação, embora, no fim, nenhum contrato tenha se concretizado. Décadas depois, a casa ganhou uma segunda camada de mitologia musical quando Trent Reznor, do Nine Inch Nails, alugou o lugar nos anos 1990. Reznor falou sobre o intenso impacto psicológico de viver num espaço impregnado de violência, descrevendo a experiência como assombrosa e criativamente fértil, moldando o tom sombrio e industrial de The Downward Spiral e deixando uma marca indelével em seu estado mental e produção artística.
3. Boleskine House, Loch Ness, Scotland

Propriedade no início do século XX do infame ocultista Aleister Crowley, esta mansão na Cornualha tornou-se envolta em lenda. Dizem que Crowley realizou rituais sombrios ali, deixando uma “residência” espiritual que alguns afirmam ter amaldiçoado a propriedade. Décadas depois, o guitarrista do Led Zeppelin, Jimmy Page comprou a casa, atraído pelos escritos de Crowley e pela própria fascinação profunda pelo oculto, colecionando artefatos e estudando magia cerimonial. Circulavam rumores de que o foco de Page por Crowley influenciou a música da banda, e até alimentou a superstição de que seu sucesso teve um preço faustiano. A mansão sofreu dois grandes incêndios, uma vez nos anos 1970 e outra nos anos 1980, o que só reforçou sua reputação sinistra. Moradores locais ainda evitam a propriedade; um residente próximo relatou ter ouvido luzes e ruídos estranhos à noite, mantendo distância respeitosa. Com o tempo, a casa tornou-se símbolo de intriga mística, lenda sombria e a influência persistente da sombra de Crowley.
4. The Dakota Building, New York City

Casa de longa data de John Lennon, e o local onde ele foi tragicamente assassinado em 1980, The Dakota carrega uma aura de história assombrosa. Décadas antes de Lennon viver ali, sua arquitetura gótica e pátio isolado fomentaram rumores de presenças estranhas. Roman Polanski utilizou o edifício como locação principal de Rosemary’s Baby, consolidando sua associação com desconforto oculto e escuridão cinematográfica. Moradores e funcionários relataram aparições fantasmagóricas, passos inexplicáveis e sombras que se movem pelos corredores. Após a morte de Lennon, o misticismo sombrio do edifício apenas se aprofundou, tornando-o um dos endereços mais lendários, e espiritualmente carregados de Nova York.
5. Headley Grange, Hampshire, England

Headley Grange foi originalmente um asilo de caridade vitoriano, construído para abrigar os pobres em condições austeras, uma história que deixou um arrepio persistente em seus corredores. No início dos anos 1970 estava decadente, porém atmosférico, e o Led Zeppelin instalou-se ali para escrever e gravar grande parte de Led Zeppelin IV, incluindo “Stairway to Heaven“. Robert Plant escreveu a maior parte das letras de “Stairway to Heaven” lá, enquanto “Black Dog” recebeu o nome de um labrador preto que perambulava pela propriedade durante as gravações. Os cômodos eram vastos, frios e ressonantes; a batida estrondosa de John Bonham em “When the Levee Breaks” foi captada em um vão de escada de pedra, agora um dos sons mais icônicos do rock. Músicos relataram batidas estranhas, luzes tremulando e uma inquietante quietude. Sua grandeza desbotada e o silêncio assombrado impregnaram diretamente a aura mítica e atemporal do álbum.
6. The Chelsea Hotel, New York City

Uma união de rock, poesia e ruína, o Chelsea Hotel é um dos endereços mais imersos em mito de Nova York. Construído na década de 1880 como moradia utópica para artistas, tornou-se refúgio de forasteiros, visionários e perdidos. O intenso e melancólico poeta galês Dylan Thomas passou ali seus últimos dias; Sid Vicious é apontado como responsável pela morte de Nancy Spungen no Quarto 100. Músicos como Leonard Cohen, Joni Mitchell, Patti Smith e os Ramones vagaram por seus corredores sombreados em busca de inspiração. Suas paredes descascadas, elevadores rangendo e atmosfera de crepúsculo permanente nutriram tanto o gênio quanto a loucura. Cada corredor parece sussurrar lendas de amor, vício, criação e colapso.
7. The Mansion, Laurel Canyon, Los Angeles

Uma mansão de 1918 em Los Angeles, posteriormente conhecida simplesmente como The Mansion, tornou-se o local atmosférico de gravação do Red Hot Chili Peppers para o apropriadamente intitulado Blood Sugar Sex Magik. O produtor Rick Rubin acreditava que a casa era assombrada, e a banda concordou em morar lá durante as gravações para ver como o ambiente moldaria a música. Cada integrante dormiu em quartos separados para “testar” a energia da casa. Enquanto Anthony Kiedis prosperou com a vibração sinistra, outros ficaram desconfortáveis, com vários se recusando a ficar lá durante a noite novamente. Os rangidos, sussurros e a presença estranha do prédio tornaram-se parte da mitologia do álbum.
8. 112 Ocean Avenue, Amityville, New York

112 Ocean Avenue, em Amityville, New York, não é um local musical, mas seu legado sombrio reverberou pela cultura pop e pelo punk rock. Local dos infames assassinatos de 1974, a casa inspirou The Amityville Horror, cativando a imaginação com histórias de assombrações e espíritos malévolos. A banda punk The Misfits inspirou-se diretamente nessa história arrepiante, imortalizando-a em canções como “Horror Business” e “We Bite“, consolidando a casa como um símbolo de fascínio macabro. Sua reputação sinistra fez dela o ícone assombrado supremo do punk, fundindo horror real com música rebelde e subversiva.
9. Clearwell Castle, Gloucestershire, England

Clearwell Castle, em Gloucestershire, Inglaterra, é uma fortaleza medieval com um passado repleto de histórias, posteriormente transformada em estúdio de gravação. O Black Sabbath escolheu o castelo para gravar o álbum Sabbath Bloody Sabbath, de 1973, atraído pelo isolamento atmosférico e pela grandeza histórica do lugar. A banda encontrou inspiração entre paredes de pedra, corredores reverberantes e câmaras escondidas, elementos que combinavam com o tom sombrio e pesado de sua música. Ozzy Osbourne afirmou ter visto uma figura fantasmagórica deslizando pelos corredores, acrescentando uma camada arrepiante à mística do castelo. Os também pioneiros do heavy metal Deep Purple ensaiaram ali os LPs Burn (1973) e Stormbringer (1974). A combinação de história, presença inquietante e reclusão fez de Clearwell Castle um cenário ideal para uma banda sinônimo de fatalismo, escuridão e potência sonora.
10. Sound City Studios, Van Nuys, California

O Sound City Studios, em Van Nuys, Califórnia, pode parecer modesto por fora, mas por décadas foi um caldeirão de criatividade e tensão. Durante as gravações de Rumours, do Fleetwood Mac, o ar estava carregado de turbulência emocional: términos, traições e enredos amorosos alimentaram performances ainda cruas e inesquecíveis. De maneira semelhante, as sessões de Nevermind, do Nirvana, captaram uma banda lidando com pressão, incerteza e a vontade de romper, produzindo um som ao mesmo tempo urgente e visceral. Os equipamentos analógicos do estúdio acrescentavam calor e aspereza, enquanto seus espaços confinados amplificavam a tensão psíquica, tornando cada take carregado de emoção. Ao longo das gerações, Sound City tornou-se mais que um espaço de gravação, foi campo de batalha e santuário, moldando o caráter de alguns dos álbuns mais duradouros do rock.
11. Villa Lysis, Capri, Italy

Nos penhascos da bela ilha italiana de Capri, a Villa Lysis foi construída no início do século XX por Jacques d’Adelswärd-Fersen, aristocrata francês, poeta e esteta. Fersen foi exilado após um escândalo em que foi acusado de promover tableaux vivants, performances semi teatrais e erotizadas com adolescentes escolares, em sua casa. Ele erigiu a vila como refúgio para o hedonismo, a beleza, o ópio e o amor proibido, e ela rapidamente tornou-se infame por decadência, romances secretos e festas extravagantes. Rumores de assombrações, luzes estranhas e espíritos persistentes circulavam entre os locais, acrescentando um fascínio gótico à vila. Sua localização isolada e arquitetura eclética criaram um refúgio para experimentação criativa, atraindo músicos e artistas em busca de inspiração mística longe das distrações urbanas. Visitantes relatam que os cômodos sombreados, os terraços ornamentados e as vistas melancólicas para o mar incentivavam introspecção e composição imaginativa. Ao longo dos anos, a Villa Lysis inspirou músicos vanguardistas e experimentais atraídos por sua atmosfera de segredo, luxo e beleza assombrada.
12. Château d’Hérouville, France

Frequentemente apelidado de Honky Château após o álbum homônimo de Elton John gravado ali, este estúdio residencial francês recebeu sessões decisivas de gravação, incluindo os álbuns Tanx, de T-Rex, Obscured by Clouds, do Pink Floyd, Low, de David Bowie, e The Idiot, de Iggy Pop. Construído sobre o que se diz ser uma cripta do século XVII, o château ganhou reputação por ruídos estranhos, pontos frios e figuras sombreadas avistadas em escadarias. Engenheiros e músicos de sessão lembraram-se de instrumentos desafinando sozinhos e portas abrindo sem motivo. Essa inquietação persistente, meio amedrontada, meio inspiradora, parece infiltrar-se no som espectral e introspectivo do período berlinense de Bowie.
13. The Troubadour, West Hollywood

O Troubadour, em West Hollywood, há muito é um pilar da cena musical da Costa Oeste, lançando carreiras e acendendo movimentos. Aberto em 1957, tornou-se campo de provas para cantores e compositores como Joni Mitchell, Carole King e Jackson Browne, e mais tarde foi o cenário da estreia americana de Elton John, do caos inicial do Guns N’ Roses e da ascensão da cena punk de Los Angeles. Mas suas lendas estão envoltas em contos mais sombrios. Durante o “Lost Weekend” de 18 meses de John Lennon, entre meados de 1973 e início de 1975, ele passou longos dias e noites no Troubadour, bebendo intensamente com o também cantor e compositor Harry Nilsson. As bebedeiras teriam danificado permanentemente a voz antes angelical de Nilsson, vítima das noites de festa, apresentações e excessos. O comediante Lenny Bruce foi preso ali em 1962 por obscenidade e morreu dois anos depois, sua morte frequentemente associada à órbita de vida dura do clube. Nos bastidores, drogas, brigas, corações partidos e egos voláteis giravam entre artistas à beira da fama ou da ruína. O Troubadour continua sendo um lugar onde brilhantismo e colapso dividem o mesmo pequeno e esfumaçado palco.
 
  
 