Regis Tadeu e a lacração disfarçada de crítica musical
Se você viveu os anos 90, quando era aceitável exibir na TV, em pleno horário nobre, programas do tipo Domingo Legal do Gugu Liberato, em que era possível ver cenas de semi nudez explícita (as vezes nudez completa), como no quadro “banheira do Gugu”, ou mesmo em programas como Domingão do Faustão, em que numa dessas exibições, os convidados podiam comer sushi em cima do corpo de uma mulher nua, ver hoje em dia pessoas do tipo de Regis Tadeu, falando besteiras na internet, não irá se chocar.
Da mesma forma que nós temos os fósseis como provas da existência dos dinossauros, na antiguidade, temos também Regis Tadeu para provar que nossa mídia de entretenimento já foi muito pior do que é hoje. Mesmo que muita coisa tenha sido superada ou que ainda está em processo de melhoramento, algumas coisas acabam passando e se perpetuando, já que não existe nada perfeito. Mas isso pode ser algo benéfico, pois serve como objeto de estudo, sobre como determinadas pragas podem desenvolver resistência a certos remédios, e isso abre margem para a criação de antídotos.
Quando eu morava na Bahia e assistia nos finais de semana o programa do Raul Gil, achava estranho um cara no meio dos jurados que apenas falava mal dos participantes. É claro que não estou dizendo que devemos amar a todos indiscriminadamente, ou que temos que gostar de tudo. Mas, se alguém se auto denomina crítico musical, precisa no mínimo ter embasamento e argumentos para sustentar a sua tese. E não era isso o que eu via. Tudo o que estava ali era apenas um personagem caricato, raivoso, com pouco vocabulário e que servia, no fim das contas, como um alivio cômico, porém não um tipo cômico engraçado.
Vi também, em certa ocasião, na TV, num desses programas de fofoca que são veiculados à tarde, esse mesmo senhor agredindo verbalmente umas garotas jovens oriundas de uma favela do Rio de Janeiro, que cantavam funk. Por mais que elas tentassem explicar para aquele tiozão aspirante a crítico musical, que o trabalho delas era legítimo, artístico, que possuía uma grande rede de fãs e que, em última instância, era o sustento delas, ele não se contentava e as atacava com mais ferocidade, com aqueles “argumentos” de sempre, como “funk não é música”, blá, blá, blá. Antes de desligar a televisão, pois estava com ânsia de vômito, percebi que uma delas aparentava em seu semblante, aspectos típicos de alguém que está prestes a chorar.
Pensava comigo mesmo: esse cara é apenas um personagem inventado para elevar a audiência dos canais televisivos em que ele participa ou ele é assim mesmo na vida real? Com a popularização da internet e surgimento das redes sociais, descobri que ele é as duas coisas ao mesmo tempo. Mas agora a audiência que ele luta para manter, é a sua própria, a partir do seu canal no youtube.
É bem irônico, um sujeito que trata todos os cantores e todas as bandas e seus respectivos trabalhos, como porcarias ou sem relevância, tendo trabalhado em um programa, como o Super Pop na Rede TV; e o pior, num quadro chamado “Toca Uma Pra Mim” (kkkkkkkkkkkk…). Essa pessoa precisaria ter uma auto estima muito elevada para continuar se levando a sério. Aliás, Regis Tadeu, com essa forma particular de se expressar, e tentando de todas as formas se mostrar como um verdadeiro entendedor de música e consequentemente, crítico musical, deu esperanças reais àquelas pessoas que tem preguiça de estudar e se esforçar, mas que ainda assim, sonham em ser um profissional competente, já que elas o veem como alguém bem sucedido na sua área de atuação, apenas falando frases “altamente complexas e eruditas”, como: “não gostei”, “é ruim” … E só. (pelo menos nisso ele serve pra alguma coisa, motivar os inúteis).
Claro que aqui podemos trazer para a análise, nosso parceiro Freud para tentar explicar e preencher certas lacunas que ficam, na visão de quem não consegue entender o comportamento agressivo de alguém que não tem motivos aparentes para ser assim. Isso porque, já é de senso comum o conhecimento a respeito do conceito de frustração, que é quando um indivíduo não logra em atingir os seus sonhos. No caso dele, pelas evidências seu sonho era ser um músico de rock, mas por algum motivo ou motivos, ele optou por ser… dentista. E como um golpe de sorte, conseguiu um emprego como jornalista na revista Cover Guitar, sendo essa a porta de entrada no universo musical, para a tristeza da plateia. Talvez, se ele tivesse alcançado o objeto do seu sonho, poderíamos ser agraciados com o seu silêncio, ouvindo apenas os acordes ou batucadas do seu instrumento. Em sites na internet dizem que ele chegou a tocar em algumas bandas de rock, mas se isso está no passado e não há mais nenhuma banda em que ele esteja, deve ser por alguma causa desconhecida.
É por isso que aproveito esse ensejo para alertar ao nobre leitor e leitora: vá em busca dos seus sonhos. Tente e tente mais uma vez até conseguir, assim como dizia Raul Seixas, na sua canção “Tente Outra Vez”; mesmo que no final você não consiga, mas que pelo menos você possa dizer: “eu tentei”. Ou, caso contrário, torne-se um ser amargurado e raso, igual ao lacrador, disfarçado de crítico musical, Regis Tadeu.
Um abraço ao Chris Martin!