“P@u no ku do Black Sabbath, P@u no ku do Iron Maiden e P@u no ku do Led Zeppelin”
COLUNISTA: CLAUDIO FURTADO
Assim que cheguei aqui em terras germânicas, comecei a frequentar a Cena Rock de Berlim. Assistia a um show aqui, a outro lá e mais outro acolá. Logo notei uma diferença para o que eu costumava ver lá no Rio de Janeiro. Todos os shows daqui eram de bandas autorais, ou seja, as bandas cantam as próprias composições. E não eram bandas famosas, era a galera do underground, que estava começando, que buscava um lugar ao sol. E isso não acontecia em poucos lugares. Existem muitos pequenos locais em Berlim onde o Punk rola solto. Fui inclusive em ocupações para assistir a bons shows de Punk e Trash. E, sim, aqui existem ocupações, algumas legalizadas outras nem tanto, mas ainda existem.
No Rio, ao contrário, quando ia em algum lugar destes para assistir a um show, era show de bandas cover e não de bandas autorais. Um cenário musical semelhante ao de Berlim eu só me lembro de existir na minha cidade nos anos 90, quando eu frequentava com os amigos o Garage Art Cult, Garage para os íntimos 🤘🤘🤘. Lá eu assisti o começo de várias bandas. Bandas que tinham estilos variados. Planet Hemp, Funk Fuckers, Gangrena Gasosa, Piu Piu e Sua Banda, Banda Cabeça, Poindexter, Sex Noise e Second Come, são algumas das bandas que me lembro de curtir várias e várias vezes no Garage. Os caras faziam o seu som e depois estavam ali na Roda Punk com a gente curtindo o show das outras bandas. Momentos alucinantes e inesquecíveis. Um imenso privilégio teve quem participou deste momento underground e único do Rio.
Havia também o Circo Voador, mas lá iam bandas e compositores mais conhecidos. Muitos de nós do Garage íamos no Circo assistir bandas como Ratos de Porão e Garotos Podres, entre tantas outras. O preço do Circo era bem mais caro do que o do Garage, mas dava para juntar uma grana para ir. Pular a cerca também dava, tinha o risco dos seguranças te pegar e botar para fora, mas valia a tentativa para quem estava duro🤣🤣🤣.
Mas tudo isso infelizmente ficou no passado do Rio. Antes existiam poucos habitats para o nosso ecossistema underground. Hoje em dia infelizmente não existe mais nenhum local como o Garage. O Circo voltou, reformado, com outra cara, mas ainda bem que voltou, apesar de eu preferir o Circo Velho. Mas como antes, lá só tocam aquelas bandas mais consagradas. O que sobrou para a galera mais Hardcore são somente shows de bandas cover. Para achar algo diferente disso tem que garimpar muito no Rio, aí talvez você encontre um lugarzinho onde terá um festival de bandas autorais.
Essa briga por espaço das bandas autorais já vem de muitas décadas. Devido ao público carioca ser carente de shows de Rock – Nacional e Internacional – muita gente ganha a vida tocando cover de bandas famosas. Isso é compreensível, pois a galera tem que ganhar grana para sobreviver. O grande problema é essa falta de espaço que se dá para as bandas autorais.
O título deste artigo, o qual está entre aspas, foi como o Gangrena começou o seu primeiro show no Garage; foi uma forma de criticar essa falta de espaço disponibilizado para as bandas autorais. É realmente lamentável que vários artistas não consigam se expressar devido ao mercado não investir em novos talentos. Estamos deixando de conhecer muita gente boa devido a essa ditadura mercadológica. Por isso faço das palavras do Gangrena, as minhas próprias palavras:
Pau no cu do Black Sabbath, Pau no cu do Iron Maiden e Pau no cu do Led Zeppelin.
Só que agora sem aspas🖕🖕🖕.