Por que os roqueiros baianos defendem o axé, mas os roqueiros cariocas não defendem o funk?

 Por que os roqueiros baianos defendem o axé, mas os roqueiros cariocas não defendem o funk?
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Eu não percebia isso, até sair da minha cidade no interior da Bahia e vir morar no Rio de Janeiro, em 2012. Apesar da minha adolescência roqueira ter sido aquela tradicional, em qualquer época e geração dos ouvintes do rock, em que consiste em ficar debochando dos outros estilos musicais, no fim das contas, as desavenças costumam ficar restritas ao campo da subjetividade, mesmo que em algumas situações as coisas pudessem partir pras vias de fato, até porque ser jovem também significa ser idiota, as vezes.

Imagem que representa a união do axé com o rock
 

Na Bahia, por exemplo, nós damos a alcunha à todos aqueles que não fazem parte da tribo do rock, de “pagodeiros”, mesmo que a vitima não curta pagode e seja apenas um apreciador de algum outro estilo. E é isso, e fim de papo. Todos voltam pra casa são e salvos e todos são amigos. Porém, algo estranho acontece na cidade do Cristo Redentor. Por diversas vezes, vi e ouvi pessoas pela cidade, dizendo coisas que jamais alguém do meu estado diria seriamente. Conteúdos absurdos e contraditórios.

Na Bahia, por mais que um morador não goste de axé, ou de Carnaval ou até mesmo, do São João, esse ultimo, um dos principais festejos da região, senão o maior, nenhuma pessoa normal iria querer a extinção de qualquer um desses ícones culturais locais.

imagem ilustrativa da Bahia e sua cultura
 

Todos nós temos consciência da importância de tudo isso, não apenas do ponto de vista estritamente cultural e artístico, mas transbordando para outras áreas relevantes e sensíveis, como a própria economia. É por causa de eventos como o Carnaval, e de estilos musicais como o forró, que milhões de pessoas conseguem pôr comida na mesa. O aquecimento econômico, a partir das festas, gerando o consumo, o turismo, a criação de empregos temporários, etc. Inclusive, muitos músicos do rock se apresentam em shows como membros de bandas de estilos diversos. Não é preciso pensar muito para entender que estamos falando de subsistência, aliado a resistência cultural e identidade. Mas por que o roqueiro carioca tem dificuldades de compreender isso?

 

Por aqui eles gostariam imensamente que o funk e o carnaval desaparecessem sumariamente. Enquanto o roqueiro baiano vê com orgulho, artistas como Ivete Sangalo fazendo sucesso pelo Brasil a fora (nós só não vamos admitir isso em público por somos roqueiros rsrsrs), aqui os roqueiros cariocas sentiriam muito prazer em defenestrar Anitta. Há poucos anos, um desses tiozões do pavê de internet, conseguiu reunir um abaixo assinado para se criar um projeto de Lei para criminalizar o funk. Isso jamais iria acontecer na Bahia com relação ao axé.

imagem representativa da cidade do Rio de Janeiro e sua musica
 

Por enquanto eu ainda não possuo elementos para chegar a uma conclusão quanto a isso. Apenas tenho suspeitas, a partir de conceitos sociológicos superficiais. Falando de forma simplória, me parece que o problema é bem mais amplo; mesmo que muitas vezes, a discussão fique resumida apenas no campo musical, a questão verdadeira é a velha e conhecida luta de classes. Não é à toa que, mesmo ouvindo falar tanto de racismo, tendo nascido no estado com maior concentração de afro descendentes do país, foi só quando passei a morar no Rio que comecei a vivenciar isso ao vivo e à cores.

 

Como o funk, o samba (que no passado era proibido pelo Estado), o Carnaval, a capoeira, as religiões de matriz africana, são todos manifestações oriundas das populações de baixa renda e que, até 1888 eram escravizados legalmente no território nacional, podemos estar diante de certos problemas atávicos, que por não terem sido resolvidos ainda, se mostram de forma fragmentada, mas de maneira mais ou menos explícita quando falamos de música.

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