O desabafo de um músico, “Só quem tem banda sabe”

COLUNISTA: Rodrigo Lamore
“É algo inexplicável. Só quem tem banda sabe do que estou falando”. Essas são as palavras do músico Henrike Baliú, da banda Armada, que acaba de lançar um clipe da canção “Last Of My Kind”, do álbum de 2024, intitulado “Tales Of Treason”, lançado em vinil pela gravadora americana Pirates Press Records, em parceria com a Comandante Records.
Esse que vos escreve sabe muito bem o que isso significa, assim como todos os artistas de todos os gêneros, em especial aqueles que não conseguem viver da sua arte, ou quando obtém esse êxito, não avançam para os trabalhos autorais, se mantendo apenas no cover, tributos, etc. O capitalismo e a obrigatoriedade da busca pelo vil metal para pagar as contas no final do mês inviabiliza ou na melhor das hipóteses, dificulta o caminho do artista, até atingir aqueles menos adaptados e disciplinados, levando à desistência. Essa é a história da arte no mundo, não apenas no Brasil.
O videoclipe dirigido por Rapha Erichsen, Rodrigo Braga e Mauro Tracco – baixista da Armada, foi filmado durante um dos shows da banda em São Paulo. “Foi tudo feito no esquema guerrilha, mas acho que conseguimos captar bem a energia caótica e intensa que caracteriza nossos shows”, revela Tracco, que já havia trabalhado com Erichsen e Braga, da produtora IMPOSSÍVEL, nos vídeos de “Jardineiro”, do Planet Hemp, e “São Paulo City”, da própria Armada.
O baixista, que divide a composição da faixa com o vocalista Henrike Baliú, conta ainda, que “Last of My Kind” é uma homenagem a quem tapa os ouvidos e segue em frente quando o mundo grita que é hora de parar. “‘Eu nunca sei quando desistir’. Acho que a maioria das pessoas que tem uma banda, ou qualquer tipo de projeto artístico, que consome todo seu tempo, dinheiro, vida pessoal e profissional a troco de praticamente nada, consegue se identificar com essa frase”. O sentimento do vocalista, que já tentou se afastar da música por alguns anos, é o mesmo. “Sempre acabo voltando para os braços reconfortantes, porém viciantes dos três acordes. É lá que me encontro, onde a minha criatividade corre solta. É algo inexplicável. Só quem tem banda sabe do que estou falando”, diz Henrike.
Enquanto houver bandas e pessoas como a Armada, com esse pensamento e dedicação, o rock brasileiro seguirá firme e forte, pois são esses que representam e simbolizam, aos olhos dos músicos iniciantes, (ou até mesmo veteranos mas que vivem em regiões onde o rock é menos presente e sem uma cena local, como por exemplo na região Nordeste que há escassez de bares de rock para a realização de shows), um alento, motivação, representação e modelo de trabalho e confiança para a continuação, foco, disciplina e crença de que é possível fazer música autoral, tocar rock, ter uma carreira e até mesmo criar uma cena onde ela ainda não existe.
Além de Mauro Tracco e Henrike Baliú, a Armada é composta pelos guitarristas Alexandre Galindo e Ricardo Galano, e pelo baterista Arnaldo Rogano.
Aproveita e assista agora o clipe que também está na programação da WebTV: