Charlie Brown Jr, Governos Lula e a mudança de paradigma
A canção dizia: “Ela tem carro importado e telefone celular…”. Era a faixa 3 do álbum de estreia: “Transpiração Continua Prolongada”, da banda Charlie Brown Jr. O nome da música é: “Tudo o que Ela Gosta de Escutar”.
Foi no final da década de 90. O Brasil estava sendo atingido em cheio pelos governos neoliberais de Collor e FHC, seguindo junto com os países da América Latina, o modelo econômico imposto pelos EUA, que atualmente vem destruindo as democracias pelo mundo e tendo como consequência, mais especificamente na Europa e no próprio continente americano, o surgimento do neofascismo.
A banda de Santos, litoral do estado paulista, lançou o disco que entrou para história do rock nacional, dando-lhe fôlego, que durou até 2013. Desde então não surgiu mais nenhuma banda de rock que chegasse ao mainstream.
A segunda metade da última década do século XX foi o grito da plebe brasileira, representada pelos artistas que não queriam mais viver na pobreza e exclusão. Assim tivemos, além do Charlie Brown Jr, Chico Science e Nação Zumbi, Planet Hemp, Sheik Tosado, etc. Mas nesse artigo quero focar na canção “Tudo o que Ela Gosta de Escutar”.
É bastante estranho pra um jovem da geração Z, que não viveu as décadas anteriores aos anos 2000, que grande parte das atuais classes C e D, não tinham acesso ao que elas têm hoje. Geladeira, televisão a cores, carro, moto, casa própria, cartão de crédito e débito, viajar à passeio, etc, eram regalias destinadas apenas aos ricos ou às classes médias. Por isso, ao ouvir o vocalista Chorão cantando a música em questão, que fala da história de um cara pobre do interior de São Paulo, que conhece uma garota rica numa festa, e eles se apaixonam, pra logo depois apresentar os empecilhos para um relacionamento duradouro entre os dois, descrevendo as diferenças sociais entre ambos. Ela que é rica, possui um objeto característico à sua condição social elevada: UM CELULAR. (whaaaat??????)
Todo mundo tem um celular!!! Todo mundo tem geladeira, todo mundo tem televisão, todo mundo tem cartão de débito, todo mundo tem… HOJE. Mas até o ano de 2003 não, não tinha. Faça o teste; mostre essa música para alguém que nasceu nos anos 2000 ou final dos anos 90. Ela ficará confusa ao ouvir que um celular é um sinônimo de status. Até você contextualizar o cenário político. Então tudo ficará compreensível.
Os pobres no Brasil passaram a ter acesso a bens, antes apenas restritos aos de alta e média classes, a partir dos governos Lula e Dilma, que tinham programas de governos voltados à distribuição de renda, acesso ao crédito, criação de cotas para universidades, acesso a energia elétrica e água para as zonas rurais, criação de empregos, fortalecimento da Industria, exportação e abertura de novos mercados internacionais, etc. Hoje é comum e normal qualquer cidadão, sendo pobre ou não ter uma casa própria, toda mobiliada, e frequentando os mesmos locais que os ricos. Por isso que certas canções como essa do Charlie Brown, ou até mesmo de outros estilos como “Burguesinha” do Seu Jorge ficaram datadas e precisam ser contextualizadas para fazerem sentido à aqueles que não sentiram na pele a dor de viver num país onde a quase totalidade da classe política estava de costas para o povo.
